Sessão ABC na Mostra homenageia José Carlos Avellar
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Um dos principais nomes da crítica e do pensamento cinematográfico brasileiro, José Carlos Avellar faleceu em março deste ano. Ele deixou um legado de textos e livros publicados, além do trabalho de gestão pública em órgãos de cinema e de curadoria. Este último, resultou no projeto dos curtas-metragens O Clique Único de Assis Horta e Improvável Encontro, exibidos na Sessão ABC da 40ª Mostra, no último dia 24, segunda-feira, na primeira homenagem ao crítico carioca em São Paulo, quando também foi lançado postumamente o seu livro “Pai País, Mãe Pátria”.

O debate após a apresentação dos filmes, contou com a presença de Lauro Escorel, Carlos Ebert, Bruna Callegari, Rubens Fernandes, Idê Lacreta e Marcia Bodansky, e discutiu o papel de Avellar na realização dos filmes e a importância desses projetos para a fotografia brasileira.

“O que nos une aqui hoje é a homenagem e a saudade do Avellar”, disse Amir Labaki, mediador da conversa. Os dois documentários, feitos por encomenda de Avellar, na época curador do cinema do Instituto Moreira Salles (IMS), tratam não só de importantes personagens da fotografia no Brasil, mas da relação que deriva deles. O Clique Único registra o fotógrafo mineiro Assis Horta, que imortalizou o patrimônio arquitetônico e a sociedade de Diamantina, enquanto Improvável Encontro trata da relação de amizade entre dois dos mais notórios fotógrafos brasileiros: José Medeiros e Thomaz Farkas.

“Avellar está na origem desse projeto; ele me propôs fazer alguns extras para o DVD de Libertários (1976), que restaurávamos na Cinemateca, e foi então que me deu vontade de voltar a trabalhar com fotografia fixa”, revelou Lauro Escorel, diretor de Improvável Encontro. A ideia inicial do cineasta acabou entrando em consonância com o que Avellar gostaria de desenvolver. “Expus a ele essa vontade. E ele, daquele jeito dele, me sugeriu começar algo sobre o José Medeiros. Mas eu queria fazer um filme de relações de pessoas, não de apenas de uma. E pesquisando e falando com outras pessoas, constatei que essa relação do José Medeiros com Thomaz Farkas estava documentada, e foi ficando evidente a aproximação estética e formal entre eles”.

A montadora do filme, Idê Lacreta, falou sobre o final do filme onde fotografia alinhadas em paralelo dos dois demonstram a relação de proximidade entre eles. “Eu recebo o material já organizado, mas esse final surgiu ao fim do processo. Tudo vai se modificando, mesmo o roteiro das sequências de fotos vai se sofisticando, para no final criar uma articulação entre elas, mostrar a relação e afetividade entre os dois”.

O diretor de fotografia do documentário, Carlos Ebert, assumiu outro papel além de conduzir a foto do filme: ele foi a voz de José Medeiros, quando lê declarações dele em entrevistas em off no filme. “Nunca narrei, quem me descobriu como narrador foi o Lauro. O mais difícil foi fazer a voz do Zé [Medeiros], pois eu estava encarnando uma pessoa por quem eu tinha grande admiração”, disse. Ao final, porém, o desafio foi recompensador para Ebert. “Esse filme teve um significado especial, pois eles sempre foram meus ídolos. Mas eu fiquei satisfeito com o resultado”.

Marcia Bodanzky, representando Jorge Bodanzky, diretor do filme sobre Assis Horta, falou do ponto de partida do filme. “Conhecemos Assis num festival de fotografia de Diamantina, e o Jorge ficou encantado por ele”. Para Marcia, foi outro aspecto do trabalho do fotógrafo mineiro. “O que me impressionou mais nele não eram apenas as fotos, mas a organização de todo esse acervo, de 60, 70 anos de trabalho”.

“O Jorge faz tudo sozinho, ele e os personagens dele”, contou Bruna Callegari, roteirista e montadora do filme. “Ele me entregou o material e a partir de um artigo da Dorrit Harazim para a revista ZUM sobre ele, fizemos a locução sobre o texto. O filme se estruturou sobre esse texto, e a locução ajudou a guiar um pouco o olhar sobre essas fotos”, completou.

Sobre a importância desses filmes o professor Rubens Fernandes ponderou: “A fotografia brasileira é a ponta de um iceberg do qual não conhecemos nada. O Assis Horta poderia estar no completo esquecimento, mas isso não aconteceu graças a uma série de coincidências e felicidades”.

Felipe Mendonça Moraes

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA